sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ABYA YALA, o verdadeiro nome da América


Li, no site do Homem Arara (*) e compartilho:

Descobri! O verdadeiro nome da América é este: ABYA YALA. Quem me contou foi a Elaine Tavares, jornalista e professora universitária na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina.

Pra contar a verdadeira história deste continente, o nome "América" só pode ser usado como evidência da sacanagem. É um nome inventado pelos invasores, em homenagem ao navegador Américo Vespúcio. Este não foi sequer o "descobridor", mas "mereceu" a homenagem por ter contornado o extremo sul do continente, passando do Oceano Atlântico ao Pacífico, e desenhado o primeiro mapa das novas terras. O Cristóvão Colombo, que tinha feito o serviço de "descobrir a América", estava velho, aposentado. Portanto, não prestava pra mais nada e podia ser descartado.

De certa forma, o Colombo mereceu a sacanagem. Afinal, ele achava que tinha descoberto o caminho para as Índias e aí chamou os povos do novo continente de "índios". Ninguém perguntou aos "índios" se eles queriam ser chamados assim, ou se preferiam ser chamados pelos nomes que eles mesmos se deram. Também nunca perguntaram a eles qual era o nome da sua terra.

É como se chamassem o Charles do Liberdade de "Carlinhos da Senzala" e ainda registrassem este nome no cartório.

Os povos do continente, porém, mesmo depois de cinco séculos de truculência, continuam de pé e agora se organizam (em nível continental, do Alaska à Patagônia). Tem consciência inclusive de que chamar a sua terra pelo nome certo é uma forma de afirmar sua existência e sua cultura. De respeitarem-se e se fazerem respeitar. O movimento indígena, organizado em todo o continente, decidiu usar essa expressão bonita, "ABYA YALA", da lingua kuna (povo do Panamá, ponto de união entre o sul e o norte do continente) para designar sua (nossa) terra. Significa "terra do esplendor"!

Sobre o trabalho da Elaine, vejam também, além do blog http://eteia.blogspot.com, o endereço http://povosoriginarios.blogspot.com . Copio uma parte da apresentação, só pra atiçar sua curiosidade:

"O projeto tem como objetivo investigar a história das nacionalidades originárias da América pré-colombiana e revelar os seus mais diferentes aspectos da vida, da cosmologia e da cultura, buscando compreender o quê destas práticas e conceitos ainda perdura de forma estrutural na maneira de organizar a vida dos povos autóctones. Este estudo se faz necessário considerando o atual fortalecimento das lutas dos povos originários no que diz respeito não só ao território, mas também no direito a expressar e vivenciar suas culturas. Isso aparece com força na Bolívia, na Colômbia, no Equador, no Chile, na Argentina e já começa a surgir no Brasil.

A proposta é, a partir da pesquisa, produzir material didático para uso de professores de primeiro e segundo graus. A intenção é de que o resultado da pesquisa acerca destas civilizações tão antigas (ou mais) do que as já conhecidas civilizações egípcia ou grega possa ser incorporado nos currículos desta fase do ensino para, com elas, provocar: o conhecimento da história antiga do continente, o rompimento com identidade colonial, o fim do racismo, o fim do isolamento do Brasil em relação aos países da América Latina, a construção de um conceito de identidade latino-americana, o reconhecimento das novas lutas dos povos originários e a caminhada no rumo de uma outra integração e outro tipo de desenvolvimento nesta Abya Yala."

(*) www.homemarara.com

sábado, 12 de novembro de 2011

DIVERSIDADE NA ESCOLA – UMA EXPERIÊNCIA


Quando comecei meu trabalho como assessora sobre a questão da diversidade étnica e cultural na Secretaria da Educação, em Novo Hamburgo, há quase três anos, tinha muitos sonhos. O que conquistamos neste período, porém, é mais gratificante do que os próprios sonhos. Vejo, hoje, em quase todas as escolas do município – uma cidade originada pela imigração alemã – a diversidade étnica e cultural sendo trabalhada com muita seriedade e, ao mesmo tempo, muito carinho.

Certamente, temos muito ainda a avançar e conquistar, mas não posso deixar de registrar que a caminhada já me gratificou mais do que poderia esperar. Sou profundamente agradecida às muitas pessoas – professora(e)s e funcionária(o)s das nossas escolas, que me acompanharam, apoiaram, ajudaram, buscaram meu apoio, aprenderam comigo e me ensinaram, exatamente como sugere Paulo Freire.
Sou profundamente agradecida, por exemplo, pela oportunidade de proporcionar o curso da UFRGS sobre o ensino da História e da Cultura da África e dos Afro-descendentes, que municiou nossa equipe com informações preciosas, além de inspirar nosso trabalho. Agradecida também pela oportunidade de conhecer inúmeras pessoas generosas, sensíveis e inteligentes que se dedicam à educação como verdadeiras militantes da justiça, da democracia, da igualdade, da fraternidade e da paz.
Confesso que me sinto orgulhosa por todo o caminho percorrido, mas sem deixar de reconhecer que fui apenas uma das agentes de todo o crescimento que estamos promovendo, não só em Novo Hamburgo, mas em todo o país. Com este espírito, gostaria de compartilhar alguns pontos que julgo essenciais ao sucesso do trabalho realizado.
1) Buscar a vivência profunda dos conteúdos a serem trabalhados. Desde o primeiro dia, além de buscar a informação acadêmica, procurei também beber na fonte da tradição oral, sabendo que este tem sido o principal veículo de transmissão de história e da cultura afro-brasileira. Da mesma forma, me aproximei da religião afro-brasileira, para entendê-la e superar preconceitos uma vez que, apesar de negra, minha formação religiosa era apenas católica. Sou especialmente grata à Mãe Maria de Ossanha, uma senhora muito simples, mas integralmente dedicada à religião, que me tem revelado um universo riquíssimo de simbolismo e sabedoria.
2) Vencer as barreiras do contra-preconceito. O racismo é uma doença traiçoeira, porque sua irracionalidade se reproduz também entre os que são vítimas do preconceito. Busquei desarmar o espírito para poder dialogar com todas as professoras e professores – a maioria brancas – sobre a questão étnica, procurando entender sua visão sobre este tema tão delicado. Alguns dos trabalhos mais bonitos, e proveitosos sobre a igualdade e a diferença estão sendo desenvolvidas por pessoas de pele branca sinceramente comprometidas com a superação dos preconceitos.
3) Valorizar todos os aspectos da cultura afro-brasileira que são aceitos pelo conjunto da sociedade. Falo aqui de música, de ritmo, de dança, culinária, roupas coloridas....
4) Compreender que a visão cultural eurocêntrica não deve ser substituída por um conceito centrado na África. Desde o início, me preocupei também em entender a questão indígena e descobri que a História do negro não pode ser separada da História do índio, nem do branco, em nosso país.
5) Evitar a prisão do ranço histórico e do coitadismo. Descobri, com muita alegria, que a História do Negro no Brasil é muito mais a História da Resistência, da Luta pela Liberdade, do que a História da Escravidão. E é neste campo positivo em que podemos nos encontrar, todas as raças, como seres humanos iguais. Muito mais do que nos reduzir a uma eterna queixa contra a opressão (embora isto não deva ser esquecido, por se tratar de uma parte da verdade), estamos ensinando valores e contribuições importante que negros e indígenas trouxeram e trazem ao nosso desenvolvimento como nação.
6) Ter as crianças como foco principal do nosso trabalho e o amor como principal motivação. Se estamos trabalhando com crianças, estamos trabalhando para o futuro e não para o passado. Do passado, podemos extrair as lições, mas a inspiração nos vem do futuro, de um mundo que temos a construir. E este mundo, não queremos feito de rancores, mas de amor, compreensão e superação.