quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PRECONCEITOS GLOBAIS

Não estou falando só da Globo, embora motivada pelo horrível e preconceituoso BBB. Infelizmente, este padrão de transformação do ser humano em mercadoria está longe de ser uma uma exclusividade da rede Globo. É um padrão global por ser generalizado, imposto por um sistema econômico, político e social que coloca a mercadoria acima do ser humano. Ponto.

Como o que vale é o valor econômico, quando o ser humano é a mercadoria não importa apresentá-lo complexo e inteiro, com passado, presente, futuro e relações reais. É muito mais fácil vendê-lo simplificado, como estereótipo, caricatura, imagem apenas.

Assim, o que o BBB nos serve não são pessoas. São bundas gostosas, peitos sarados, sorrisos bem escovados, lágrimas sem sal. Amores e rancores determinados por um objetivo indisfarçavelmente individualista: um milionário prêmio em dinheiro e a fama, o direito de se trasnformar em fantoche bem remunerado, pessoa-propaganda, senão de programa.

Estereótipos tem um potencial terrível de criar e fortalecer preconceitos. Como o que interessa é vender, repartem-se as pessoas de acordo com as estatísticas que identificam os grupos sociais que mais consomem. Não importa mostrar a realidade. Importa vender. Por isto, os brothers são, numa massacrante maioria invertida, jovens, brancos, sarados, vaidosos, consumistas, individualistas, competitivos...

Há lugar para os negros. Sempre tem um ou uma pois, enfim, é preciso preservar a imagem da instituição como não-racista, não preconceituosa. E, ainda, há uma parcela de negros já com poder de compra... os gays tem um excelente padrão de consumo! Por isto, sempre há um negro, um gay, um velho (de meia idade), um mais gordinho. De preferência, reúnem-se vários tipos num só, para sobrar espaço para bunda e peito sarado. Pronto, estão incluídos.

E ainda dá para aproveitar o representante da minoria para reforçar o preconceito contra a própria minoria. É o que fizeram com o último negro a participar e ser cuspido fora do BBB. De saída, o simpático “Biau”, culto e quase cínico em sua lábia, pergunta ao negro-representante-de plantão, se é contra ou a favor das cotas. O deslumbrado candidato a famoso, escolhido a dedo pelo corpo bonito e as idéias alinhadas com o sonho de escapar sozinho do destino popular, transformando-se em negro de alma branca, dá a resposta que a Globo quer ouvir: EU não preciso.

Danem-se todos os demais irmãos. Danem-se as feridas e as consequências de séculos de escravidão e exclusão. “EU não preciso!”. Coitado, não percebeu que também ele estava na “casa mais observada do Brasil” justamente para preencher a cota ínfima de negros na programação global.

Escolhido, no entanto, não só pela cor da pele, mas também por um caráter e um senso ético servis, governados apenas pelos objetivos individuais, entre eles os de satisfação sexual, foi flagrado servindo-se de uma loirinha bêbada e desacordada. “Estupro”, bradou a nação! A “grande irmã” fez que não viu, mas o flagrante foi disseminado pelas redes sociais, forçando-a a jogar fora o “brother” negro, como único responsável pelo desvio ético que ela cuidadosamente planta, rega e colhe, todos os dias, em nossos lares.

Duas observações:

Na época da escravidão – e, infelizmente, não só nesta época – os senhores serviam-se das negras, sem perguntar, mesmo se acordadas e sóbrias. E não era estupro!

Como é importante o Controle Social sobre os Meios de Comunicação, assunto que está na pauta de discussão política popular, especialmente na América Latina e no Brasil!