domingo, 30 de dezembro de 2012

Capoeira revela contradições que precisamos superar

Mestre de Capoeira é, necessariamente, uma pessoa culta. Mais do que conhecer e executar os muitos movimentos desta arte; mais do que tocar os muitos instrumentos; mais do que saber cantar as muitas canções que acompanham cada roda; mais do que dominar todo o conjunto de pequenos rituais; precisa entender o significado da cada um destes momentos e sua vinculação com a História do afro-brasileiro. 

Não é por menos que mestres de Capoeira ensinam danças ancestrais, como o Jongo; respeitam a religiosidade de raiz africana; cultivam os valores da cultura negra no Brasil e conhecem profundamente a História de luta do nosso povo pela liberdade e pela igualdade.

A importância e a amplitude cultural da Capoeira, felizmente, são reconhecidas em nosso país. Oficialmente, a Capoeira é considerada como "Patrimônio Imaterial" brasileiro e este fato evidencia o progresso das nossas lutas contra a discriminação, o preconceito e a opressão. 

Ao mesmo tempo, porém, o mesmo Estado que eleva nossa cultura é responsável também por uma visão apequenada, quando exige que mestres de Capoeira tenham formação superior em Educação Física para trabalharem nas escolas públicas. Por acaso a quem ensina ballet se exige formação em Educação Física? Não, pois ballet, embora exija força e elasticidade, é sobretudo uma arte. 

Reduzir mestres de Capoeira a especialistas em Educação Física é reduzir a luta de um povo inteiro pela liberdade a saltos e pernadas, ignorando todas as estratégias sociais desenvolvidas durante séculos; todo o conjunto de valores cultivados e transmitidos através de inúmeras gerações.

O pleno reconhecimento da Capoeira, além da vistosa declaração de que é "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira", se dará apenas quando nossas universidades oficializarem a Capoeira como disciplina superior, em que se cultive e desenvolva toda a riqueza da contribuição negra à cultura brasileira.