domingo, 23 de janeiro de 2011

DIVERSIDADE ÉTNICA E CULTURAL NO ÂMBITO DA ESCOLA


Aceitar a diversidade é mais do que apenas constatar sua existência e estabelecer um comportamento cosmético de aceitação. A diversidade nos coloca diante de impasses éticos, políticos e teóricos de difícil equacionamento, pois elas refletem relações políticas, de poder, dominação e submissão. Por um lado, a diversidade étnica e cultural é uma riqueza fascinante, especialmente da sociedade brasileira. Isto, no entanto, não significa que possamos nos conformar com o elogio fácil da pluralidade ou com o relativismo que ignora ou pretende não se posicionar diante dos conflitos éticos e políticos que se estabelecem entre diferentes padrões culturais. Assumir a diversidade significa enfrentar uma reflexão densa e madura sobre as particularidades dos grupos sociais e também implementar políticas públicas, alterar relações de poder, redefinir escolhas e questionar nossa visão de democracia.

Para realizar este processo é preciso perceber que a diversidade cultural é muito mais do que um tema ou conteúdo a ser incluído no currículo. Ela é um dado real no cotidiano da escola como instituição social e de todas as pessoas que nela convivem. Não só dos alunos, mas também professores, pais e funcionários da escola.

A escola, aliás, é uma das instituições sociais em que é mais intenso o encontro das diferentes presenças culturais. No entanto, também é um espaço sociocultural marcado por símbolos, rituais, culturas e valores diversos que, ao mesmo tempo, são produto de relações de poder e as reproduzem. Esta reflexão madura sobre as diferentes presenças na escola e na sociedade brasileira deve fazer parte da formação e da prática de todos/as os/as educadores/as e dos que se interessam pelos mais diversos tipos de processos educativos.

A originalidade de cada cultura reside na maneira particular como os grupos sociais resolvem seus problemas. Cada cultura tem uma maneira própria de agrupar e excluir diferentes elementos culturais. Cada construção cultural possui uma dinâmica própria, escolhas diferentes e múltiplos caminhos. A escola deveria ter como tarefa descobrir os motivos destas escolhas, entendê-las e analisá-las à luz de uma reflexão colada aos processos históricos e sociais da humanidade. Isto não condiz com a crença em um padrão único de comportamento, de ritmo, de aprendizagem e de experiências, pois a padronização dá margem ao entendimento diferenças como desvios.

Neste sentido, os/as educadores/as devem entender-se também como profissionais da cultura e não de um padrão único de aluno, de currículo, de conteúdo, de práticas pedagógicas, de atividades escolares. Todos/as, sem exceção, diferem em raça/etnia, nacionalidade, idade, sexo, gênero, crença, classe. Todas essas diferenças estão presentes na relação professor/aluno, entre os alunos e entre os/as próprios/as educadores/as. Nesse sentido, podemos afirmar que a reflexão sobre a diversidade cultural nos conduz a repensar o papel do/a professor/a.

O trato da diversidade é algo complexo. Exige o reconhecimento da diferença e, ao mesmo tempo, o estabelecimento de padrões de respeito, de ética e a garantia dos direitos sociais. Avançar na construção de práticas educativas que contemplem o uno e o múltiplo significa romper com a idéia de homogeneidade e de uniformização que ainda impera no campo educacional. É preciso compreender que o processo educacional ultrapassa os muros da escola e ressignificar a prática educativa, a relação com o conhecimento, o currículo e a comunidade escolar. Coloca-nos diante do desafio da mudança de valores, de lógicas e de representações sobre o outro, especialmente aqueles que fazem parte do grupo dos historicamente excluídos.

Nossa proposta é fazer das diferenças um trunfo, explorar sua riqueza, possibilitar a troca, proceder como grupo. Precisamos adotar práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças sejam entendidas como parte de nossa vivência e não como algo exótico, nem como desvio ou desvantagem. No entanto, isto só pode acontecer numa dinâmica pedagógica que incida sobre relações de poder, sob pena de cairmos num relativismo que só serve à reprodução de uma ordem historicamente injusta.

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