sábado, 12 de novembro de 2011

DIVERSIDADE NA ESCOLA – UMA EXPERIÊNCIA


Quando comecei meu trabalho como assessora sobre a questão da diversidade étnica e cultural na Secretaria da Educação, em Novo Hamburgo, há quase três anos, tinha muitos sonhos. O que conquistamos neste período, porém, é mais gratificante do que os próprios sonhos. Vejo, hoje, em quase todas as escolas do município – uma cidade originada pela imigração alemã – a diversidade étnica e cultural sendo trabalhada com muita seriedade e, ao mesmo tempo, muito carinho.

Certamente, temos muito ainda a avançar e conquistar, mas não posso deixar de registrar que a caminhada já me gratificou mais do que poderia esperar. Sou profundamente agradecida às muitas pessoas – professora(e)s e funcionária(o)s das nossas escolas, que me acompanharam, apoiaram, ajudaram, buscaram meu apoio, aprenderam comigo e me ensinaram, exatamente como sugere Paulo Freire.
Sou profundamente agradecida, por exemplo, pela oportunidade de proporcionar o curso da UFRGS sobre o ensino da História e da Cultura da África e dos Afro-descendentes, que municiou nossa equipe com informações preciosas, além de inspirar nosso trabalho. Agradecida também pela oportunidade de conhecer inúmeras pessoas generosas, sensíveis e inteligentes que se dedicam à educação como verdadeiras militantes da justiça, da democracia, da igualdade, da fraternidade e da paz.
Confesso que me sinto orgulhosa por todo o caminho percorrido, mas sem deixar de reconhecer que fui apenas uma das agentes de todo o crescimento que estamos promovendo, não só em Novo Hamburgo, mas em todo o país. Com este espírito, gostaria de compartilhar alguns pontos que julgo essenciais ao sucesso do trabalho realizado.
1) Buscar a vivência profunda dos conteúdos a serem trabalhados. Desde o primeiro dia, além de buscar a informação acadêmica, procurei também beber na fonte da tradição oral, sabendo que este tem sido o principal veículo de transmissão de história e da cultura afro-brasileira. Da mesma forma, me aproximei da religião afro-brasileira, para entendê-la e superar preconceitos uma vez que, apesar de negra, minha formação religiosa era apenas católica. Sou especialmente grata à Mãe Maria de Ossanha, uma senhora muito simples, mas integralmente dedicada à religião, que me tem revelado um universo riquíssimo de simbolismo e sabedoria.
2) Vencer as barreiras do contra-preconceito. O racismo é uma doença traiçoeira, porque sua irracionalidade se reproduz também entre os que são vítimas do preconceito. Busquei desarmar o espírito para poder dialogar com todas as professoras e professores – a maioria brancas – sobre a questão étnica, procurando entender sua visão sobre este tema tão delicado. Alguns dos trabalhos mais bonitos, e proveitosos sobre a igualdade e a diferença estão sendo desenvolvidas por pessoas de pele branca sinceramente comprometidas com a superação dos preconceitos.
3) Valorizar todos os aspectos da cultura afro-brasileira que são aceitos pelo conjunto da sociedade. Falo aqui de música, de ritmo, de dança, culinária, roupas coloridas....
4) Compreender que a visão cultural eurocêntrica não deve ser substituída por um conceito centrado na África. Desde o início, me preocupei também em entender a questão indígena e descobri que a História do negro não pode ser separada da História do índio, nem do branco, em nosso país.
5) Evitar a prisão do ranço histórico e do coitadismo. Descobri, com muita alegria, que a História do Negro no Brasil é muito mais a História da Resistência, da Luta pela Liberdade, do que a História da Escravidão. E é neste campo positivo em que podemos nos encontrar, todas as raças, como seres humanos iguais. Muito mais do que nos reduzir a uma eterna queixa contra a opressão (embora isto não deva ser esquecido, por se tratar de uma parte da verdade), estamos ensinando valores e contribuições importante que negros e indígenas trouxeram e trazem ao nosso desenvolvimento como nação.
6) Ter as crianças como foco principal do nosso trabalho e o amor como principal motivação. Se estamos trabalhando com crianças, estamos trabalhando para o futuro e não para o passado. Do passado, podemos extrair as lições, mas a inspiração nos vem do futuro, de um mundo que temos a construir. E este mundo, não queremos feito de rancores, mas de amor, compreensão e superação.

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