sábado, 30 de abril de 2011

SEBASTIÃO


Tem uma lágrima, ainda, pendurada no meu olho. Acho que vai ficar aqui para sempre. É uma lágrima de tristeza, sim. Mas também é de alegria. De tristeza e alegria, como o samba sabe misturar. E de orgulho. Muito orgulho do meu povo, que sabe fazer gente como o Sebastião Flores. Como a dona Nair. Como a Teresa. Como a Janete. Como o Crush. Como tantos que se foram ou que irão, mas todos deixando sementes que Sebastião soube cultivar com sabedoria e regar com paixão.

Juro, porém, que não terei saudades. A saudade, enorme, vou matar cada vez que entrar na quadra da Protegidos, porque ele vai estar lá, feito um preto velho que não abandona seus filhos. Isto, aliás, é bem da nossa cultura, que trazemos lá da mãe África. Nós sempre respeitamos e trazemos conosco, acima de nossas cabeças, a presença e a herança de quem veio antes e cuidou de nós. É assim que respeitamos também nossos filhos e netos, transmitindo a eles a presença e a herança de muitas gerações.

Foi pensando nisto, na importância da herança que ele nos confiou, que procurei alguns vereadores de Novo Hamburgo para sugerir que batizassem a nova Escola Infantil, que a Prefeitura de Novo Hamburgo está concluindo, ao lado da quadra da Protegidos, do campo do Rondônia e das famílias do Morro da Formiga, com o nome de Sebastião Antonio Flores. Soube, então, que a Escola já tem o nome, votado pela Câmara Municipal, de João Campagnoni. Me contaram também que existe uma lei proibindo homenagear pessoas antes que se passe um ano de sua morte.

Mesmo assim, no meu coração bate a certeza de que faria um bem enorme, a todas as crianças e à comunidade do Morro da Formiga, a toda comunidade carnavalesca de Novo Hamburgo, à cultura da nossa cidade, à causa da integração e da igualdade étnica, considerar seriamente esta homenagem. Vou insistir nesta idéia.

De qualquer forma, fica a certeza de que ele continua conosco, agora acima de nossas cabeças, nos inspirando e nos orientando.

Acima da tua cabeça, Negra Rose.

E da tua, Lu Astral.

De toda a comunidade. A partir de agora, ele faz parte de todos nós. E todos nós somos parte dele.

Certo, Sebastião?

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